Aquele lugar tão gracioso me
viu chegar
Viu-me nenê a ser menino e a
crescer
Crescido fui moço como foram
outros
De criança até ser grande eu
era o explorar
E me encantar dos cantos e
recantos
Daqueles locais que foram o
meu lar
A casa que eu morava e todas
as outras
Eram parecidas e pouco se
diferenciavam
Na minha tinha jardim inclinado
com grama
Onde era plano havia um
cercado de buchinho
Cercando pés de rosas
plantadas dentro dele
Minha rua era de terra como
lá todas eram
Do outro lado dela tinha uma
cerca
A mata por detrás dela
escondia o barranco
Onde tinha bananeiras plantadas
até perto do rio
Lá sentado na margem
observando sua correnteza
Ela me interiorizava
distraído em devaneios
Surgiam curiosidades do meu
viver e de como eu era
Os postes da rua tinham
iluminação fraca à noite
E as mariposas rodeavam suas
lâmpadas fracas
E assim se distraiam na luz
do afastar da escuridão
Durante o dia o sol era um
banhar de calor e luz
Ele era a alegria para as
borboletas coloridas
No bater de suas asas eram
lentas ao voarem
Muitas vezes as vi imóveis em
flores silvestres
Elas pareciam existir para
embelezar o mundo
As mamonas verdes com seus
cachos de bolinhas
Tinham seus espinhos moles
que não espinhavam
Eram o pousar dos pássaros
tizius a pular e a cantar
Eu vi fortes chuvas que
deixavam poças na rua
Como o Narciso também eu me
espelhei nelas
Entre raios e trovões ouvi
minha mãe falar alto
Diante de a vela acesa
repetir o nome Santa Bárbara
Era para o acalmar da
tempestade de granizo
Tinha o nome de chuva de
pedra
Elas embranqueciam o chão da
horta
Uma a uma colocadas numa
caneca com açúcar
As pedrinhas de gelo eram sorvetes
da natureza
Quando a chuva se enfraquecia
e ia embora
O sol que estava escondido
reaparecia
Para brilhar em cores nos
pingos de chuva pelo ar
Que restaram para formar as
cores do arco-íres
Em casa o abacateiro era o
refúgio das rolinhas
O pé de amora sempre atraia
sabiás e sanhaços
E o de caqui era o preferido
pelos colibris
Lembro-me do cachorro Lulu e
do gato amarelo
Meu companheiro o Lulu era
preto e branco
Esperto o gato cego de um
olho roubava alimentos
Minha mãe sempre o expulsava
da cozinha
Contudo... O tempo a passar a
tudo faz mudar
Chega à adaptação ou à
inevitável imitação da vida
Da vida das responsabilidades
sociais exigidas
Ser mais um no mundo dos escravos
do ter e do ser
E só existir no como e no que
a humanidade está a existir
Vivendo mais na humanidade e
distante da natureza
Adeus bananeiras do barranco
e do rio devaneio
Adeus meus espelhos de poça
d’água da chuva
Adeus as borboletas e ao Lulu
e ao gato amarelo
Adeus pedrinhas de gelo
sorvete da chuva
Adeus ao se admirar com as
cores do arco-íres
Adeus à inocência dos meus
primeiros tempos
Os tempos de agora não são
como os de outrora
Parece existir apenas para o
passar das horas
Neste mundo onde o viver está
tão tumultuado
E faz saber que a natureza
está por fora
Das agruras que neste mundo
vigora
A natureza sempre esteve para
o bem da humanidade
E a humanidade é o maior mal
para ela
Natureza e seres humanos são
antagônicos
Altino Olimpio